A cantora Gaby Amarantos revelou uma estratégia de emagrecimento no mínimo controversa — e que acende um debate urgente sobre os limites entre estética, saúde e marketing no universo dos famosos. De acordo com seu relato, ela atingiu uma redução de peso de 14 kg a partir de um procedimento denominado “limpeza intestinal”, que teria sido decisivo para a mudança corporal que ostenta atualmente.

Segundo sua versão, o processo envolveu a introdução de grandes volumes de água no intestino, em uma clínica especializada — chegaram a citar cerca de 300 litros. “Meu corpo limpou, a minha mente limpou”, disse a artista, que afirma ter recorrido à técnica após não conseguir emagrecer pelos métodos convencionais. O procedimento teria sido para ela “a solução mais radical” naquele momento, embora a mesma deixe claro que não o repete com frequência.

Apesar de assumir o risco da exposição e das críticas, Gaby insiste que “não conhecem” o que ela enfrentou e que, no momento em que adotou a técnica, não via outro caminho. Esse tipo de relato abre uma série de reflexões sobre o papel dos procedimentos estéticos drásticos no contexto de saúde pública, e sobre os discursos de auto­imagem que influenciam amplamente a sociedade.

Primeiro, importa ressaltar que a descrição do método remete a uma prática que envolve altos volumes de líquido intraluminal e mobilização intensa do sistema digestivo. Embora possa haver efeito imediato sobre o peso corpóreo — derivado da eliminação de líquidos e conteúdo intestinal —, a sustentação desse resultado e os impactos sobre metabolismo, microbiota, equilíbrio eletrolítico, função renal e digestiva não estão claramente demonstrados no relato. A cantora frisou a precariedade de estudos acerca do tema, o que coloca o relato na fronteira entre experiência pessoal e evidência científica.

Em segundo lugar, há um componente de marketing intrínseco: a narrativa da celebridade que “tentou de tudo” e encontrou atalho — uma limitação para o espectador comum, cuja saúde e acesso a cuidados podem não ser equivalentes. Essa distinção entre performance corporal pública e as condições individuais reais corre risco de gerar frustração ou comportamentos de risco. É essencial que o peso da influência pública seja acompanhado de consciência crítica.

Terceiro, o contexto mais amplo: o discurso de que emagrecimento rápido e mudanças drásticas no corpo são desejáveis, ou mesmo alcançáveis, por meio de técnicas “milagrosas”, precisa ser equilibrado com a realidade biológica e os riscos médicos. A sociedade que aplaude a transformação estética corre o risco de naturalizar procedimentos extremos sem suficiente avaliação clínica, ética ou cientificamente validada.

Por fim, o depoimento de Gaby Amarantos convida a uma pergunta relevante: até que ponto o corpo saudável coincide com o corpo esteticamente aceito — e em que momento o acesso ao procedimento deixa de ser questão de saúde para se tornar espetáculo? Em um mundo em que a celebridade virou modelo de estilo de vida, o relato da cantora revela tanto as pressões para mudança corporal quanto as lacunas de informação que separam o público dos bastidores desses processos.

Em resumo, a história é ao mesmo tempo poderosa e problemática. Poderosa porque uma figura pública compartilha sem filtros uma experiência pessoal de transformação. Problemática porque mistura saúde, estética, extremos e exposição — sem que o diálogo sobre segurança, acompanhamento médico ou alternativas mais equilibradas seja igualmente protagonizado. E, nesse cenário, cabe ao público e aos profissionais de saúde exercer a crítica — e a cautela.

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