Um estudo recente reacendeu o debate sobre a eficácia e os limites dos medicamentos usados para emagrecimento. A pesquisa revelou que mais de 80% dos pacientes que interrompem o uso de Mounjaro — remédio que utiliza a substância tirzepatida — recuperam uma parte significativa do peso perdido ao longo dos meses seguintes, revertendo também diversos benefícios metabólicos obtidos durante o tratamento.
Perda rápida, recuperação acelerada
Os participantes do levantamento apresentaram resultados expressivos enquanto faziam uso contínuo do medicamento. Muitos alcançaram reduções robustas de peso corporal e registraram melhorias importantes na saúde, como queda na pressão arterial, estabilização dos índices de colesterol e maior controle glicêmico.
Entretanto, ao suspender o tratamento, a maior parte desses avanços retrocedeu. Em poucos meses, indicadores como circunferência abdominal, pressão arterial e sensibilidade à insulina voltaram a níveis semelhantes aos anteriores ao início do uso de Mounjaro. Para os pesquisadores, o retorno do peso em tão pouco tempo demonstra que os efeitos do remédio são altamente dependentes da continuidade da terapia.
Por que o ganho de peso retorna?
O Mounjaro atua diretamente nos mecanismos de saciedade do organismo. Ele ajuda a reduzir o apetite e torna o processo de digestão mais lento, prolongando a sensação de plenitude e facilitando a perda de peso. No entanto, quando o medicamento é interrompido, o corpo naturalmente retorna ao seu padrão habitual: o apetite aumenta, o metabolismo tende a desacelerar e o organismo passa a reter energia com mais eficiência.
Essa combinação cria o cenário ideal para o chamado “efeito rebote”, em que a pessoa volta a ganhar peso rapidamente após interromper o tratamento. Em muitos casos, a rotina alimentar e o ritmo de vida anterior também retornam, dificultando ainda mais a manutenção da perda de peso alcançada.
Obesidade: um desafio que exige tratamento contínuo
Os resultados do estudo reforçam um ponto amplamente reconhecido entre especialistas em saúde: a obesidade é uma condição crônica e multifatorial. Por isso, dificilmente será controlada a longo prazo com soluções rápidas ou tratamentos de curta duração.
Medicamentos como Mounjaro podem ser ferramentas importantes, especialmente para quem enfrenta dificuldades significativas na perda de peso. Porém, o estudo indica que interromper o uso sem acompanhamento ou sem mudanças consolidadas no estilo de vida tende a comprometer os resultados.
O entendimento atual é que medicamentos para obesidade devem ser tratados de forma semelhante a tratamentos contínuos para hipertensão ou diabetes. A interrupção abrupta pode não apenas anular os benefícios, como também agravar riscos cardiometabólicos.
Impacto emocional e social
Para muitos pacientes, a recuperação do peso após tanto esforço gera frustração, ansiedade e sensação de fracasso. Além disso, afeta a saúde de forma direta, reabrindo portas para doenças como hipertensão, pré-diabetes e distúrbios metabólicos.
No plano social, o estudo também serve de alerta para a popularização das chamadas “soluções milagrosas” para emagrecer. A promessa de perda rápida e relativamente fácil pode criar expectativas irreais e gerar dependência de tratamentos que, quando interrompidos, apresentam reversão dos resultados.
Caminhos possíveis
Especialistas defendem que a abordagem mais eficaz combina diferentes frentes: orientação nutricional, atividade física regular, acompanhamento psicológico e, quando indicado, o uso contínuo de medicamentos. A interrupção do tratamento deve ser sempre planejada, acompanhada por profissionais e alinhada a mudanças de hábitos reais.
A principal conclusão do estudo é clara: embora medicamentos como Mounjaro possam acelerar a perda de peso, a manutenção dos resultados depende de uma estratégia duradoura — e de compreender que emagrecer é um processo contínuo, e não um atalho temporário.